[RP - Annabeth Harris Bale] - Minha mãe disse que você pode dormir aqui se a sua deixar.

Observei seu rosto, seus olhos que iam de mim até a tela do celular enquanto ela explicava o funcionamento daquele joguinho chamado Valorant. Observava seus lábios, como eles se moviam para articular as palavras, e seus olhos, mas ao passo que ela foi explicando seus olhos pareceram perder o interesse na tela do smartphone e cada vez mais pousar em mim. Até mesmo suas palavras foram perdendo o ritmo. Eu confesso que não havia prestado muita atenção, área A, área B, tanto fazia.

Minha respiração estava um pouco mais pesada do que o normal e me inclinei um pouco, me ajeitando na cama, o que me fez aproximar a ponto de tocar nossos narizes. Eu podia sentir sua respiração quente bater em minha pele, o seu perfume. Minha barriga borbulhava de ansiedade e eu sentia em meu íntimo que o momento de um beijo se aproximava. Ela não havia negado em momento algum, e agora parecia partilhar do mesmo sentimento que o meu. Seus olhos pescrutavam meus lábios, e meus olhos.

— E se... — Engoli em seco, umedecendo meus lábios em seguida. — E se eu te beijasse, agora? — Aquela pergunta saiu num fio de voz. Toquei nossas testas. — Como seria?

Eu estava disposta a dar um passo em direção ao desconhecido, ao novo, porém a porta fez barulhos de arranhado e não demorou para Desgrenhado começar a miar me chamando para abri-la. Seria suspeito não deixar ele entrar, como fazíamos todas as noites. Apertei os olhos com força, xingando mentalmente meu gato com todas as minhas forças enquanto me preparava para levantar.

Considerações:

Seus olhos eram grandes, ou estavam muito perto. Era fácil para mim me perder neles, era como uma imersão de um 3D de tecnologia IMAX muito bem feita; eu estava caindo para dentro de seu olhar, mas fisicamente nada tinha acontecido. Nossas testas e narizes se tocaram. Aimee agora pergunta como seria me beijar... como eu poderia saber? Eu também não sei como fazer isso. Ela sabia? Olhei para seus lábios, eles estavam me chamando, ou estava na hora do meu remédio? -  Eu não faço ideia...

Sons arranhando a porta e uma miado surgiram; era o gato dela. Vejo ela apertar os olhos, ela iria sair dali? Segurei sua mão, projetei meu lábios em um bico e toquei a boca de Aimée. Eu não saia muito bem o que estava fazendo, nem como, mas era uma resposta para Aimee de que, se ela queria saber como era, eu não tinha problema algum com isso.

Ainda mantinha meus olhos apertados, fechados com força, e já começava a juntar energia para ir até a porta e abri-la para o Desgrenhado entrar, mas Anna segurou minha mão e senti um toque singelo em meus lábios, macios. Era bom e em minha mente um turbilhão de cores surgiu, rodopiando, sobressaindo-se uma perante a outra. Eu senti uma felicidade extrema e estava muito satisfeita que havia sido correspondida. Em meu âmago eu tinha a impressão de que eu conseguiria fazer tudo! Nada poderia me abalar mais.

Eu era invencível.

Durante aquele selinho puxei o ar com força em um suspiro e, em seguida, me afastei. Um estalinho ficou de fundo junto com os sons da própria Anna ainda interagindo com o seu chat rodando no celular, agora esquecido largado no colchão. Eu estava respirando pesado, com o coração a milhão. Esquadrinhei seu rosto e, sem dizer nada, me levantei e fui até a porta, lançando olhares para Annabeth. Quando abri a porta e Desgrenhado entrou - eu precisei empurrá-lo pra dentro com o pé para ele ser mais rápido - fechei a porta e corri de volta pra cama, dando um abraço demorado na bruxa.

— Desculpa, eu tive que ir ali pro gato calar a boca. — Sussurrei contra o seu pescoço e afastei o rosto para ficar frente a frente com ela. — Quem beijaria uma louca, não é mesmo? — Disse baixinho, tocando em seu nariz com o meu. — Você é muito besta.

Não deixei que ela respondesse e selei nossas lábios novamente, de forma um pouco desajeitada talvez por causa da falta de prática, mas eu ainda queria mais. Eram apenas selinhos demorados e me mantinha de olhos fechados prestando atenção no calor dela, no toque dos lábios e no seu cheiro. Era tudo tão novo pra mim que eu queria entender mais daquilo, como isso tudo funcionava. Não sabia como as coisas seriam depois, mas eu não estava muito preocupada com aquilo agora.

Eu não sabia descrever o sentimento que tomou conta de mim no momento, mas era forte e, não só me preenchia, mas era como se não coubesse em mim; eu estava explodindo, exalando, transpirando algo bom. Bom não, incrível. Não sei. Aimee se afasta para colocar Desgrenhado para dentro do quarto. Foi algo simples, mas que me deixou ainda mais feliz, ver Aime voltando rapidamente e se jogando na cama e me dando um abraço, como se fosse difícil ficar longe de mim. Ela pede desculpas.

- Não precisa - eu disse ainda abraçada. Ela então torna a dizer o que falei mais cedo. "Quem beijaria uma louca, não é mesmo?" e me chamou de besta tocando seu nariz com o meu; eu concordei mentalmente. Suspirei e quando ia responder, ela me impediu tornando a tocar meus lábios com os seus, agora por mais tempo. Terminando o segundo beijo, eu sorria, mas era como se meu rosto fosse pequeno demais, meu corpo não permitia que eu sorrisse mais aberto que aquilo, mas eu queria, eu precisava.

Senti um pinguinho escorrer de meu olho direito até o queixo. Eu chorei? Por quê? Que confusão gostosa. Olhei para Aimee, estava aparentemente ofegante como eu - está sentindo também? - perguntei. Aimee estava curiosa, mas e agora. Ela só matou a curiosidade e... só isso? Ela sentia o mesmo que eu? O coração não estava mais cabendo dentro de si como o meu?

Assim que me afastei, depois de trocar alguns selinhos com Anna, notei que ela respirava um pouco diferente, parecia ter o nariz obstruído e, ao tocar a sua bochecha, notei que estava molhada. Franzi o cenho em confusão e peguei o celular da sua cama, colocando a tela acima de nossas testas para poder enxergá-la. Ela estava chorando ao mesmo tempo que fazia uma piada no celular acima de mim. Era algo bem confuso de presenciar.

Ela me perguntou se eu estava sentindo o mesmo que ela, mas eu não tinha certeza, afinal, eu não estava chorando.

— Eu não sei, eu... sinto felicidade e entusiasmo e ansiedade e... tantas coisas. — Limpei a lágrima de sua bochecha. — Mas eu não estou com vontade de chorar, definitivamente. Eu poderia correr 10 voltas em volta da casa só com a energia da minha felicidade. — Eu não conseguia parar de sorrir.

Me ajoelhei em sua frente, com as mãos em meu colo, tentando analisar aquela expressão, aquela lágrima, mas estávamos tão na penumbra que eu não conseguia ter uma leitura precisa.

— Você está triste? — Perguntei, ainda confusa. — O que houve?

Aimee percebeu algo diferente. Pôs a mão em minha bochecha enquanto iluminava meu rosto com meu celular. Ela então limpou a lágrima que escorreu explicando o que sentia; parecia ser como eu. Embora eu tivesse chorado, essa energia que tinha dentro de mim também era real. Ela se ajoelhou e me perguntou porque de eu estrar triste. Eu parecia triste?

- Não, Aimee, eu não estou triste, é muito pelo contrário. Essa energia que você falou, eu sinto também. Eu não sei porque eu chorei, mas... se chora de felicidade também, né? - falei sorrindo. Pensei um pouco sobre antes, sobre meu passado, em especial em Hogwarts - você tem razão, eu sou uma besta - ri um pouco. - acho que conhecer alguém que gostou tanto de mim, me emocionou um pouco. Minha alegria nem cabe em mim mais - peguei sua mão, pedindo para que se deitasse novamente. Assim que ela se deitou e lhe beijei de novo.

Peguei a mão de Aimee. Não via muito bem no escuro, mas ainda via a silhueta da mão e fiquei brincando com ela, puxando os dedos pra cima um por um. Por fim, entrelacei seus dedos com os meus. - Eu perguntei por que, bom, eu estava sentindo tudo isso e você estava com curiosa. Você matou sua curiosidade?

A observei enquanto ela me explicava que sentia felicidade e uma felicidade parecida com a minha, o que me fez sorrir satisfeita. Aquela lágrima, então, era uma lágrima de alegria e eu me senti um pouco mal por não chorar também. Talvez Anna fosse um pouco mais chorona do que eu e por isso ela se emocionou. Pensando um pouco, agora, ela devia se sentir muito solitária principalmente pelo fato, que já havia me revelado, de não ter muitos amigos. E quanto mais ela continuava a se descrever mais minha primeira impressão se fazia acertiva.

— É, você é. — Concordei com um sorrisinho.

Ele me segurou pela mão e eu fui conduzida a me deitar, ficando de lado na cama. Seus lábios tocaram os meus uma vez mais e eu me entreguei ao beijo, que virou outro em seguida e mais outro. Era uma sensação curiosa e gostosa ao mesmo tempo. Quando ela se afastou e começou a mecher em minha mão observei atentamente o que fazia, até que ela enlaçou os dedos nos meus. Sorri com aquele gesto tão simplório e tão significativo, ao mesmo tempo.

— Sim, eu sanei essa curiosidade. —  Me virei de barriga para cima e, como estávamos com as mãos enlaçadas, a puxei fazendo com que seu corpo colasse no meu. Com o braço destro, o que estava livre, a abracei, permitindo que ela deitasse a cabeça em meu peito. — Eu já sei que eu beijei uma garota e eu gostei. — Brinquei com a letra da música e repousei minha cabeça no topo da sua. — Mas acho que outras curiosidades surgirão e eu e você podemos sanar juntas, aos poucos.

Ela respondeu que acabou com a curiosidade do beijo. Ela deitou de barriga para cima e me puxou para si, então me abraço com o braço que estava livre. Deitei em seu peito e ela brincou com a letra da música. Eu ri - é, eu gostei também. Mais do que podia imaginar - senti sua cabeça tocar a minha e ela continuou falando sobre demais curiosidade que ainda sanaríamos juntas.

- Sim... vamos descobrir muitas coisas, bem BFF's - de repente aquilo me soou estranho - quer dizer... somos amigas? Algo mudou agora? - questionei. Independente da resposta, aquilo era uma mera formalidade. Acho que se tratava mais de como iríamos nos apresentar para outras pessoas, do que de fato éramos. A importância que temos, uma pra outra, nós já sabemos, certo?

Olhava o teto. O beijo foi incrível, mas não só ele, mas algo que veio com ele. Estar daquele jeito Aimee, deitada, olhando para o teto, se tornou algo mais especial do que deveria.

Aquela pergunta havia me pego de jeito e eu realmente não sabia como responder. Sim, éramos amigas e eu a considerava alguém importante a próxima a mim por mais que a tivesse conhecido a algumas horas atrás, mas o carinho que eu tinha por Anna, ao meu ver, passava um pouco da margem de amizade. Por alguns segundos eu não a respondi, mas por fim, peguei o seu celular e dirigi meus olhos para a tela dele, deixando um beijinho no topo da sua cabeça.

— Acho que... por hora cabe na nossa amizade. — concluí. — E a gente sempre pode trocar alguns beijos quando sentirmos vontade.

Soltei uma risada um pouco envergonhada, afinal, depois que as palavras saíram da minha boca eu acabei por achá-las um tanto quanto inapropriadas de acordo com a criação que meus pais me deram, mas Anna tinha esse jeito de me tirar da minha zona de conforto e querer aprender mais sobre as coisas que eu não entendia, de querer deixar de ser "quadrada" e ser mais espontânea, como ela.

— Espero que eu consiga mostrar pros seus antigos colegas de Hogwarts o quão legal você é. — Murmurei com os lábios colados em sua cabeça, enrolando seus cabelos em meus dedos da mão do abraço.

Aimee concluiu que ainda éramos amigas, mas poderíamos nos beijar novamente quando desse vontade. No momento, eu não tinha reclamações, porém eu fiquei com um pouquinho de medo lembrando de coisas que eu ouvia, até séries que eu assistia; era comum dizerem que essas coisas podiam estragar amizades. Ainda assim, achei melhor não ter essa conversa agora, estava tudo tão bom. Por hora, pensei que o melhor seria aproveitar o momento.

Ela sobre querer mostrar para as pessoas como eu era legal. É estranho dizer que fiquei vermelha com isso? Depois de três beijos? Eu me sentia querida por ela e, acho que por isso, talvez eu consiga me sentir querida por outros. Ela via qualidades em mim que nem mesmo eu enxergava. Como isso era possível? Ri um pouco - você que é uma pessoa incrível - sentir o toque de Aimee era bom demais. Parando pra pensar um pouco, eu me arrepiei diversas outras vezes em que aconteceu. Eram pistas do que poderia acontecer entre a gente?

Sentia ela mexendo em meu cabelo e aquele sentimento que me preenchia não ia embora tão cedo. Olho para o lado e vejo o gato olhando a cena - ele não fica com ciúmes? - perguntei. Logo outra coisa me veio a mente, afinal, dessa vez foi só o gato que quis entrar, mas... - sua mãe costuma entrar sem bater? Não tem problema ela nos ver assim? - talvez não tivesse nada demais em como estávamos agora, mas por conta do beijo, talvez eu estivesse... vendo demais?

Eu realmente não fazia ideia pelo que Anna já havia passado e cada vez mais este gap em minha mente crescia, a cada minuto que estudava suas reações. Eu encarava a tela do celular entre meus dedos mas prestava atenção em sua respiração, nas reações imediatas de se encolher e me abraçar mais apertado. Acabei por sorrir de forma melancólica quando ela falou que eu era uma pessoa incrível.

— Eu sei... — Acabei soltando uma risada baixa, mas segui assistindo as piadas de Anna na tela do aparelho, enquanto ela volta e meia morria e demonstrava extrema frustração, reclamando dos outros participantes do jogo.

Estava começando a entender como aquele jogo funcionava de tantas repetições que eu via Anna fazer. Era mais complexo do que esgrimar, mas era como uma batalha pelo seu espaço no campo. Sua voz, então, soou baixinho, até com um tom rouco bonito. Ela perguntou sobre Desgrenhado não sentir ciúmes e, quando olhei para onde ela estava me indicando, notei o gato felpudo sentado, nos mirando. Eu ri e fiz um "Pspspsi" para chamá-lo. Em resposta ele desceu de onde estava e subiu na cama, indo se deitar entre minhas pernas, por cima do cobertor.

— Ele é um gato normal, não acho que sinta algo como ciúmes. — Respondi esticando o braço e o dedo até perto do seu rosto. Ele se inclinou e cheiro a ponta do meu dedo e aproveitei para fazer um "boop" no seu nariz. Dei de ombros para a pergunta seguinte. — Não tem nada de errado dormirmos na mesma cama e acabarmos abraçadas. Às vezes eu acordo abraçada no meu travesseiro, no Mr. Stripes... talvez hoje acorde abraçada com você. — Acabei rindo da minha própria frase. — Vamos dormir que amanhã vou precisar de energia. — Me inclinei por cima dela, deixando o celular ali em sua cômoda de cabiceira. — Boa noite, streamer-girl.

Toquei em sua bochecha com a mão esquerda e a fiz me olhar nos olhos apenas para entregá-la mais um selinho antes de dormir. Quando rompemos o contato com um estalinho me deitei e a abracei como se fosse um ursinho de pelúcia gigante, só que ao contrário de uma pelúcia Annabeth podia me abraçar de volta e eu achava aquilo o máximo!

Aimee chamou o gato fazendo sonzinhos com a boca, o mesmo desceu de onde estava e veio para cama indo para as pernas da garota. Ela disse que Desgrenhado era um gato normal e, por isso, não sentiria algo como ciúmes.

Ela fala sobre nos verem juntas daquela forma. Ela fazia parecer que realmente não havia nada demais naquilo. - Ok então - eu acreditava nela. Eu não tive muitas amigas e nunca fui um poço de carícias com meus pais, apesar não termos nenhum problema familiar, mas se Aimee dizia que estava tudo bem, era porque estava tudo bem.

Ela riu um pouco e disse que precisávamos dormir. Fiquei um triste no momento, pois eu queria conversar mais com ela, ou talvez... beijar mais. Ela tocou em minha bochecha e olhou em meus olhos. Céus, como eu adoro os olhos dela. Deu-me mais um selinho e em seguida, me abraçou. Eu abracei de volta e agora já não me importava se estávamos nos preparando para dormir. A abracei de volta, forte demais por alguns segundos, mas depois relaxei.

- Streamer-girl... - repeti tardiamente e rindo um pouco - boa noite, campeã!

O dia anterior havia passado rápido, ou pelo menos para mim que passei treinando com meu pai e, hoje, já é o dia do grande torneio.

"Mas pera, que isso? Eu dormi demais? Que dia estamos?"

Relaxa, a direção decidiu por um fast travel porque eu não teria muito tempo para ficar de chamego com a Anna, então vamos avançar para o grande dia!

Eu já vestia a roupa de esgrima enquanto esperava por Anna se arrumar no meu closet. Ela mesma havia me ajudado com algumas fivelas da vestimenta e agora eu prendia meu cabelo em um curto rabo de cavalo. Quando me certifiquei que nenhum fio seria capaz de prejudicar minha visão durante as lutas peguei a maleta de madeira com a espada dentro de falei com a voz um pouco mais alta, para me fazer ouvir.

— Quase pronta, Anna? — Abri as presilhas da maleta e chequei a espada. Estava pronta para o torneio.

Mantinha minha mente afiada para os duelos que me esperavam e eu só torcia para não ter que enfrentar Violet logo na primeira chave. O nível daquela garota era surreal e quando cruzávamos floretes o resultado era sempre incerto. Era, bem dizer, a única competidora que eu temia de verdade naquele torneio.

Eu estava animada! Além das coisas estarem incríveis entre mim e Aimee, aquele era o grande dia, o dia que foi razão para eu estar ali na casa dela todo esse tempo: O dia do Torneio de Esgrima.

Ajudei ela com sua roupa de esgrima, ela era apertada com presilhas e várias outras coisas que dificultavam um pouco vesti-la sozinha. Eu me arrumei de forma mais casual, afinal eu só iria torcer. Fui até o closet, tirei o pijama e fui colocando as roupas. O sobretudo para me proteger do frio e a camisa que Aimee havia escolhido para mim por de baixo dele era porque... sim. - Estou pronta! - respondi a amiga.

Saí do closet. Ela já havia prendido o cabelo e a olhei de ponta abaixo. Olhei para a porta, seria demais dá-la mais um beijinho ali? Melhor não. Certamente alguém poderia aparecer, era o dia dela hoje. Me contive e apenas a elogiei - olha... parece uma super-heroína - falei com um sorriso. Talvez ela também não soubesse no que se tratava, mas eu explicaria para ela se necessário.

Assim que Anna saiu do closet, e eu pude colocar os olhos nela, deixei escapar um sorriso. Notei um pedaço da estampa da blusa que havia mostrado para ela no dia anterior e ela parecia bem feliz, quase radiante. Se aproximou e notei seus olhos me estudando. Disse que eu parecia uma super-heroína e ri do conceito, erguendo os braços e flexionando os músculos.

— Você acha? — Perguntei, rindo de minha própria besteira, mas não deixei de notar que ela observava a porta, receosa. — Você está bonita, parece... uma coisa bonita.

Eu podia imaginar, pelas conversas da noite anterior, que ela ainda se sentia receosa de ser vista por meus pais comigo, então dei um passo em sua direção, encurtando nossas distâncias a quase zero. Observei sua expressão e toquei a sua bochecha, colocando uma mecha de cabelos atrás da sua orelha em seguida. Sorri e me afastei novamente, pegando a maleta com o florete dentro.

— Aqui dentro estamos seguras, meus pais não entram sem bater. — Dei de ombros. — Coisa de etiqueta.

Fui até ela, dei um beijinho em seus lábios, e me dirigi até a porta, abrindo-a e dando passagem para Anna. Levou alguns minutos até chegarmos ao carro e confesso que às vezes era cansativo morar numa casa tão grande. Cada vez mais fazia notas mentais para ter uma casa pequena quando morasse sozinha.

Quando entrei no carro deslizei pelo banco para dar espaço para Annabeth e coloquei a maleta no lado da porta, assim eu teria espaço no meio e ao lado de minha amiga.

— Será que chego nas quartas de final? — Perguntei, quando todos já estavam no carro, prestes a saírmos da garagem.

Ela riu fazendo o famoso double biceps e então disse que eu estava bonita - ah, obrigada. É um dia especial! - comentei.

Ela se aproximou ficando bem perto de mim. Sua mão tocou minha bochecha e colocou meu cabelo para trás dá orelha. Eu já não ficava tão nervosa com aquilo, mas ainda me sentia quente. Ela me disse que ali dentro estávamos seguras, pois os pais dela não entravam sem bater e fiquei aliviada, mas pensei um pouco sobre futuramente. Quando estivéssemos em minha casa, talvez teríamos que ter mais cuidado.

Ela me deu um beijinho e foi até a porta. Minha mão foi até meu lábio, como se o toque de Aimee tivesse ficado por ali e não quisesse que fosse embora. Sorri sozinha e então percebi que ela me esperava sair por primeiro.

Descemos e fomos até o carro e entrei no mesmo logo após minha amiga. Aimee então questiona sobre a possibilidade de chegar as quartas de final - mas é claro, você vai vencer o torneio. Esqueceu? - respondi confiante e pegando em sua mão - temos só que decidir onde o troféu vai ficar. No quarto? Na sala? Em um corredor? Hmmm...

Soltei uma risada ao passo que entrelaçava os dedos com os da mão de Anna, como se a resposta para a sua pergunta fosse muito óbvia. Aquilo chamou a atenção do meu pai que me encarou pelo espelho. Minha mãe, por outro lado, ainda vestia o cinto e fazia a conferência dos itens de sua bolsa, como se ela não fosse encantada.

— É óbvio que vai ficar no meu quarto! — Me inclinei entre os bancos e, com a mão livre, liguei o rádio do carro. — E eu vou comprar um celular e tirar fotos com o troféu para me vangloriar para a Violet. — Olhei para Anna e pisquei para ela, também, fazendo um sinalzinho de "Me liga" que havia assistido a um tempo atrás em um filme.

Violet era a filha mais velha dos Watkins e minha principal rival na esgrima. Ela era alta e esguia, o que lhe dava uma vantagem clara em seu alcance, mas também fazia seus movimentos a curta distância não serem tão precisos. Ela tinha cabelos escuros e olhos azuis, uma pele alva como leite e sardas em suas bochechas. Sua beleza era muito evidente e, como minha principal rival, eu gostava de me imaginar estar em pé de igualdade com ela, mas a única coisa que conseguia, no momento, era tentar vencê-la esgrimando.

Lancei uma segunda olhada para Anna e a vi me observando. Achei que precisaria explicar sobre minha rival.

— Não lembro se te falei, mas Violet é a minha única preocupação no torneio. — Suspirei e me sentei para trás, no banco. O tecido da roupa farfalhou. — Espero que ela não esteja treinando com tanto afinco e esteja se dedicando a algum outro hobbie como, sei lá, apicultura.

Ela responde que o troféu vai ficar no seu quarto, o que eu já esperava. Ela ligou o rádio do carro e aquilo me fez passar por um momento estranho. Eu e Aimee havíamos alcançado um estágio diferente em nossa amizade, ou seja lá o que aquilo havia se tornado, e tudo havia começado por causa de uma música que coloquei a tocar no meu Spotify. Minha língua emudeceu meu lábios no mesmo instante lembrando da música e tudo o que ela havia desencadeado.

Calma, Anna, você não pode fazer nada agora. - Eu sei. - noto os olhares preocupados de Aimee - Desculpa, mas não precisam se preocupar, trouxe os remédios comigo. Só pegar um pouco de água lá quando chegarmos. - disse aliviar a tensão do momento.

Aimee comentou sobre sua grande rival, o que me deixou um tanto curiosa. Eu acreditava nela, se ela via Violet como uma rival, com certeza ela tinha muito potencial, mas as coisas que ela dizia me deixavam um pouco decepcionada também. Decepcionada seja uma palavra forte, enfim, eu não sei explicar.

- Mas Aimee, qual o mérito de vencer de alguém que não treinou? - eu lembrava de meus jogos no momento. Como streamer e tendo um desempenho bom, eu encarava os melhores do servidor o tempo todo, e era aquilo que motivava. Mas se eu soubesse que alguém não estivesse se esforçando para ganhar, me deixaria mais triste.

Soltei minha mão da de Aimee e pus as duas em suas bochechas apertando-as - ela treinou muito, e você vai ganhar, pois você é melhor... entendeu? - ok, talvez meu lado competidora tenha saído demais do armário? Rs. Olhei para ela... céus, como queria beijá-la mais uma vez. Suspire fundo e lhe dei a mão novamente - esse troféu vai ser seu, ou não me chamo Annabeth! - concluí.